“Ainda que recém-construído, em grande parte com generosas doações da Câmara de Comércio do Porto, o Palácio de Cristal e os seus jardins envolventes não devem deixar de ser visitados por qualquer pessoa que deseje ver a nossa cidade invicta em todo o seu esplendor. Com 300 metros de comprimento e 144 metros de largura, composto por seis naves, uma obra desta envergadura só foi possível graças aos modernos métodos desenvolvidos por Marcelo Bruckmann, postos ao serviço da visão de Thomas Dillen Jones . Espera-se que este colosso de granito, aço e vidro, se mantenha no coração da nossa cidade durante muitos séculos vindouros, pois apenas um evento de magnitude catastrófica o conseguiria destruir.
Quando o visitar não se esqueça de ir prevenido com migalhas e aparas de carne para alimentar os simpáticos saurópodes que se escondem no meio dos arbustos e convivem amenamente com os visitantes.”
In: ‘Guia Para As Maravilhas Modernas da Cidade Invicta e Áreas Adjacentes’, Carminho dos Reis, 1868
Palácio da Bolsa
“Diz-se que Lisboa é uma cidade de políticos enquanto o Porto é uma cidade de mercantes. Para provar a veracidade desta afirmação não há melhor evidência do que a existência do Palácio da Câmara de Comércio do Porto, conhecido popularmente como “Palácio da Bolsa”. Um sumptuoso edifício que mistura o gosto estético de outros tempos com as tecnologias mais recentes. O seu exterior, encostado à Igreja de São Francisco, não fica nada a dever à beleza e aos detalhes favorecidos pelos patronos religiosos de outrora. Os dirigíveis que atracam na sua torre principal serão recompensados com uma vista sem rival de um dos mais curiosos e fascinantes edifícios da nossa época, incluindo A Esfera Armilar das Nações que embeleza a praça frente ao Palácio.
A admissão de não-sócios é feita após um pagamento nominal em qualquer uma das entradas, quer aéreas quer terrenas, mas valerá bem a pena.
Nos seus salões e corredores, decorações clássicas, como estátuas e rendilhados de talha dourada, misturam-se subtilmente com tubos pneumáticos e fios telegráficos que são como veias, levando informação constante aos membros da Câmara. Como disse o poeta: “o coração da cidade bate, regado a ouro”.”
In: ‘Guia Para As Maravilhas Modernas da Cidade Invicta e Áreas Adjacentes ’, Carminho dos Reis, 1868
“Se o viajante for um homem de fé com curiosidade em engenharia, não deverá perder a oportunidade de atravessar o Douro e subir até ao Monte da Virgem, em Vila Nova de Gaia. No seu topo, após passar a Planta de Telekinematografia Augusto Rubicão encontrará um discreto templo onde se poderá dedicar à adoração do Ser Divino durante o tempo que muito bem lhe aprouver. De seguida poderá admirar outra construção muito maior, mesmo ao lado da capela, memória de um projecto nacional raramente mencionado que ambicionava alvejar directamente um dos olhos do Criador.
Por fim, se o vento estiver de feição para afastar as nuvens de fumo e vapor, poderá ainda aproveitar para descontrair, e observar os quilómetros e quilómetros de fábricas, campos industriais e oficinas que se estendem até o horizonte, marcas sublimes do progresso que em anos recentes transformou Gaia de um mero conjunto de aldeias deslavadas numa verdadeira cidade industrial de metal e aço que poderia competir com Stahlstadt, se Stahlstadt estivesse a passar um momento relativamente calmo.”
In: ‘Guia Para As Maravilhas Modernas da Cidade Invicta e Áreas Adjacentes’, Carminho dos Reis, 1868
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