24 de setembro de 2013

Pontos de Interesse



Palácio de Cristal

“Ainda que recém-construído, em grande parte com generosas doações da Câmara de Comércio do Porto, o Palácio de Cristal e os seus jardins envolventes não devem deixar de ser visitados por qualquer pessoa que deseje ver a nossa cidade invicta em todo o seu esplendor. Com 300 metros de comprimento e 144 metros de largura, composto por seis naves, uma obra desta envergadura só foi possível graças aos modernos métodos desenvolvidos por Marcelo Bruckmann, postos ao serviço da visão de Thomas Dillen Jones . Espera-se que este colosso de granito, aço e vidro, se mantenha no coração da nossa cidade durante muitos séculos vindouros, pois apenas um evento de magnitude catastrófica o conseguiria destruir.
Quando o visitar não se esqueça de ir prevenido com migalhas e aparas de carne para alimentar os simpáticos saurópodes que se escondem no meio dos arbustos e convivem amenamente com os visitantes.”

In: ‘Guia Para As Maravilhas Modernas da Cidade Invicta e Áreas Adjacentes’, Carminho dos Reis, 1868



Palácio da Bolsa

 

“Diz-se que Lisboa é uma cidade de políticos enquanto o Porto é uma cidade de mercantes. Para provar a veracidade desta afirmação não há melhor evidência do que a existência do Palácio da Câmara de Comércio do Porto, conhecido popularmente como “Palácio da Bolsa”. Um sumptuoso edifício que mistura o gosto estético de outros tempos com as tecnologias mais recentes. O seu exterior, encostado à Igreja de São Francisco, não fica nada a dever à beleza e aos detalhes favorecidos pelos patronos religiosos de outrora. Os dirigíveis que atracam na sua torre principal serão recompensados com uma vista sem rival de um dos mais curiosos e fascinantes edifícios da nossa época, incluindo A Esfera Armilar das Nações que embeleza a praça frente ao Palácio.
A admissão de não-sócios é feita após um pagamento nominal em qualquer uma das entradas, quer aéreas quer terrenas, mas valerá bem a pena.
Nos seus salões e corredores, decorações clássicas, como estátuas e rendilhados de talha dourada, misturam-se subtilmente com tubos pneumáticos e fios telegráficos que são como veias, levando informação constante aos membros da Câmara. Como disse o poeta: “o coração da cidade bate, regado a ouro”.”

In: ‘Guia Para As Maravilhas Modernas da Cidade Invicta e Áreas Adjacentes ’, Carminho dos Reis, 1868



Monte da Virgem





“Se o viajante for um homem de fé com curiosidade em engenharia, não deverá perder a oportunidade de atravessar o Douro e subir até ao Monte da Virgem, em Vila Nova de Gaia. No seu topo, após passar a Planta de Telekinematografia Augusto Rubicão encontrará um discreto templo onde se poderá dedicar à adoração do Ser Divino durante o tempo que muito bem lhe aprouver. De seguida poderá admirar outra construção muito maior, mesmo ao lado da capela, memória de um projecto nacional raramente mencionado que ambicionava alvejar directamente um dos olhos do Criador.
Por fim, se o vento estiver de feição para afastar as nuvens de fumo e vapor, poderá ainda aproveitar para descontrair, e observar os quilómetros e quilómetros de fábricas, campos industriais e oficinas que se estendem até o horizonte, marcas sublimes do progresso que em anos recentes transformou Gaia de um mero conjunto de aldeias deslavadas numa verdadeira cidade industrial de metal e aço que poderia competir com Stahlstadt, se Stahlstadt estivesse a passar um momento relativamente calmo.”

In: ‘Guia Para As Maravilhas Modernas da Cidade Invicta e Áreas Adjacentes’, Carminho dos Reis, 1868
 

Rui Leite - textos
Rui Alex - imagens



20 de setembro de 2013

Gisela & Jonathan: Daguerreótipo e Alguma Correspondência Via Tubo Pneumático



De: Gisela de Mascaranhas, Rua da Estrada, Tubo Pneumático 324
         Para: Jonathan Beresford, Campo dos Mártires da Pátria, Tubo Pneumático  438

                                          
“Querido Jonathan:
 Recordo-me que na tua última visita me falaste do interesse que tinhas em visitar a Exposição de Jardins Intra-Terrestres assim que ela chegasse à nossa cidade. Pois bem, ela já abriu há uma semana e eu ainda não recebi um único convite para a ir visitar. Imagina a minha desilusão.
Saber que os famosos lagartos gigantes de Lindenbrock, os cogumelos luminosos, as flores que não precisam de sol… todas essas maravilhas vão estar no nosso Palácio de Cristal e eu, talvez, não as chegue a ver. O meu pai, a minha única salvação, encontra-se demasiado ocupado para me acompanhar. Que tristeza…
Espero, no entanto, que tu já tenhas conseguido apreciar de perto todas os encantos que se escondem no interior do nosso planeta, afinal quando teremos outra oportunidade de as ver, sem ser nas nossas imaginações, ao ler relatos de jornais?
Bem, lá terei eu de me resignar.

Com toda a consideração do mundo, a tua amiga:
Gisela ”


Seis de Maio de 1865, 9h: 30min

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De: Jonathan Beresford, Campo dos Mártires da Pátria, Tubo Pneumático  438
      Para: Gisela de Mascaranhas, Rua da Estrada, Tubo Pneumático 324


“Cara Gisela:
Não fosse a tua gentil missiva e nem me teria lembrado da exposição; como tenho estado tão ocupado nas reuniões com o Sr Rubicão, a preparar os detalhes para a viagem que se avizinha, nem sequer tive oportunidade para seguir esse grande evento como gostaria. Só a chegada dos sáurios deve ter sido impressionante, uma verdadeira demonstração de organização e força nacional. Lamento não ter estado presente.
De facto, como tenho esta tarde livre de compromissos, teria o maior prazer em te acompanhar, se o teu pai autorizasse e tu tivesses disponibilidade, naturalmente.

Admiro muito o teu interesse por estas maravilhas científicas do nosso tempo; se me permites o elogio merecido, és uma jovem notável.
Com os melhores cumprimentos:
Jonathan Beresford (Te.)”

Seis de Maio de 1865, 10h: 26 min

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De: Gisela de Mascaranhas, Rua da Estrada, Tubo Pneumático 324
      Para: Jonathan Beresford, Campo dos Mártires da Pátria, Tubo Pneumático  438

“Querido  Jonathan:
O meu pai já está a ajustar as lentes do Pau-De-Cabeleira, vou ter contigo ao local habitual às 14h00 em ponto!  Vou levar o meu melhor vestido de passeio!

Com toda a consideração do mundo (e não “cumprimentos” que, por melhores que sejam, já te disse, me parecem sempre formais demais), a tua amiga:
Gisela”

Seis de Maio de 1865, 11h: 00 min
 



Rui Leite - textos
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17 de setembro de 2013

BD Steampunk - Personagens II




Gisela de Mascaranhas

É a jovem filha única do Conde de Mascaranhas, com 20 anos, e é alvo das atenções de mais que muitos pretendentes (ela é bonita e a fortuna do Conde de Mascaranhas também) mas por seu lado não quer saber, e considera-se apenas a pretendente mais ou menos secreta do Tenente Jonathan Vasconcelos Beresford. Pelos padrões da época, claro, deveria ser ao contrário, mas o rapaz é tão atadinho que ela se cansou de esperar e resolveu tomar o assunto nas suas próprias mãos. Vasconcelos Beresford é o único que não se apercebe de nada e age sempre de maneira muito formal com ela, com medo de a ofender, embora sinta o mesmo. Na realidade é o mais inapto dos seus pretendentes. Isso por vezes deixa-a furiosa, quase com vontade de partir um vaso na cabeça do tenente (“mas não com muita força porque ele, no fundo, não tem culpa”).
Gisela faz tudo o que seria de esperar de uma menina de bem na sociedade da época mas como fã incondicional da Senhora Shelley e da senhora Austen (que ela não se cansa de elogiar) tem uma mente sagaz e subversiva se bem que romântica. Isso confunde Beresford como tudo. Ela, por seu lado, jurou que seria sua responsabilidade meter aquele rapaz no “bom mau caminho” nem que seja a ultima coisa que faça.
Simpática e inocente tende a largar as suas impropriedades nas conversas com um sorriso de brincadeira que a torna impossível de censurar. No entanto não abusem, pois ela considera-se uma mulher independente e não vai tolerar condescendências excessivas. Por exemplo, agora apenas toca harpa porque, depois daquele incidente em que partiu o violino na cabeça de um pretendente que estava a passar das marcas, qualquer instrumento que pudesse ser usado como arma romba lhe ficou proibido. (Em defesa dela ele tinha-lhe chamado “minha menina” de forma extremamente irritante… “menina”, quando tinham os dois a mesma idade, era mau… “minha” era francamente pior.)
Fisicamente é franzina (sim, o que fez com que a coisa do violino tivesse chegado como uma surpresa) e usa caracóis aos cachos, tem olhos grandes e bastante expressivos.


Tenente Jonathan Vasconcelos Beresford


Tem 26 anos e é alto e elegante; o seu aspecto, com cabelos loiros e olhos claros, revela bem as suas origens Luso-Britânicas.
O pai dele foi importante durante a guerra peninsular e por isso Jonathan tem um lugar no exército. Foi educado num colégio militar e isso vê-se na sua postura. Usa sempre o seu uniforme, com o maior dos orgulhos. É secretário da Câmara do Comércio porque gere uma cadeia de mercearias que pertenciam à família da sua mãe.
Tem talento e interesse em engenharia, mas é bastante inseguro e, apesar de ser bom na área, tem dificuldade em se impor. Normalmente é a voz da razão nas discussões da Câmara do Comércio, mas devido à sua forma excessivamente polida e calma de falar acaba por nunca ser levado a sério. No final a sua educação militarista, que o programou para obediência cega à autoridade, acaba por fazer com que ele se cale acreditando piamente que os seus superiores devem ter razão. Mais frequentemente do que não, esse não é o caso.
É introvertido e isso sobressai particularmente no seu relacionamento com o sexo oposto. De facto, quando Gisela de Mascaranhas se separou do grupo de pretendentes que a rodeavam no baile dedicado aos ex-alunos do Colégio Militar para vir falar, muito casualmente, com ele, Jonathan mal pôde acreditar na sua sorte. Foi exactamente isso que pensou, palavra por palavra. Desde esse dia é completamente fascinado por ela, mas tem demasiado receio de ser desrespeitoso para com “uma boa amiga” para o revelar. Afinal, pensa ele, ela já tem tantas pessoas interessadas nela que mais uma só seria outro problema. Para além do mais acha que a maior parte dos pretendentes oficiais de Gisela são muito mais adequados socialmente que ele. 
Yep, o jovem Beresford pode ser bom rapaz, mas tem toda a aptidão social de uma amiba particularmente inapta nesse departamento.

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14 de setembro de 2013

BD Steampunk - Personagens


Exmos Membros da Câmara de Comércio do Porto No Ano Da Graça De Nosso Senhor 1865


Presidente: Augusto Rubicão

Tem 56 anos e uma vasta fortuna, usa um bigode farto e é um homem “corpulento”.
É proprietário de uma série de vinhas no Douro, caves no Porto, uma linha de dirigíveis que ligam todo o país, uma frota de navios que atravessam o Atlântico e é dono da primeira companhia de Telekinematographia (televisão à la século XIX) em Portugal.

É o tipo de líder que dá ordens sem se preocupar com detalhes como, por exemplo, se estas são exequíveis ou não. Assume que é melhor homem de negócios do que realmente é, mas na verdade, o seu império existe parte por sorte, e parte por ele ter jeito para escolher representantes competentes e honestos em cada uma das suas empresas. Na realidade já perdeu mais dinheiro do que aquele que ganhou, mas a fortuna que herdou é tão grande que nem chega a dar por isso.
No entanto tem que se admitir que a sua personalidade é magnética, acabando por arrastar outros consigo, mesmo que os seus projectos sejam rebuscados e irrealizáveis.
É daquelas pessoas que, quando lhes chamam a atenção para falar mais baixo, olham para quem lhes diz isso e respondem “mas eu já estava a falar baixo”. Já estão a ver o tipo de pessoa, certo?



 Persona Non-Grata Oficial: Conde Firmino Vilela


É o grande rival de Rubicão, e o posto de “Persona Non-Grata Oficial” foi criado pelo presidente especialmente para ele após uma discussão acalorada sobre qual seria o futuro da indústria pecuária no Ribatejo se as touradas fossem abolidas.
Ele, incrivelmente, aceitou com uma certa dose de orgulho e agora usa isso para irritar toda a gente sempre que pode, argumentando que é um dos privilégios do posto.
A sua oposição a Rubicão, no entanto, raramente é mais razoável que os planos do presidente. O conde Firmino é daquelas pessoas que discorda por discordar. Se alguém disser que céu é azul, ele irá imediatamente dizer que sempre o considerou de uma tonalidade mais vermelha clara ou assim. (O seu argumento contra as touradas, por exemplo, era que elas faziam dos touros mais fortes e, se não fossem acabadas a tempo, estes acabariam por desenvolver inteligência ao fim de algumas décadas, organizando-se depois em grupos terroristas o que levaria inevitavelmente a um golpe de estado taurino.)
Veste a tradicional roupa de vilão, incluindo a longa gabardine negra, o chapéu alto e o bigode fino e negro que, sim, torce sempre que se sente em posição de superioridade. Infelizmente como é baixo e magro a roupa assenta-lhe mal. A gabardine, por exemplo, pode ser frequentemente vista a “varrer o chão”.
Pior que isso, ele tem um grande segredo!
O Conde Vilela, para sua grande vergonha, é um homem terrivelmente moral, um coração de manteiga que, mesmo contrafeito, não resiste a ajudar os mais necessitados. De facto,
grande parte dos orfanatos, lares para depauperados ou clinicas gratuitas para senhoras da noite no Porto são financiadas pelos seus negócios. Mas como considera isso mau para a sua imagem de homem de negócios frio, faz isso sempre de forma anónima. Uma espécie de lavagem de dinheiro às avessas.


Tesoureiro: António Silva


António Silva é uma daquelas pessoas a quem a única coisa que falta para ser invisível é deixar de ter um corpo opaco. De resto todas as outras características estão lá, ninguém repara nele, ninguém espera que ele intervenha em discussões, e quase ninguém sabe que ele existe a menos que algo corra mal. Sempre foi assim desde que se lembra.
Como consequência dessa sua falta de visibilidade natural tem tendência a tentar aproximar-se de pessoas mais notáveis que ele, para tentar compensar. Não resulta. Assim, uma vez dentro da Câmara do Comércio, tornou-se num dos mais fervorosos apoiantes de Rubicão, independentemente da sanidade do projecto em causa. Rubicão, por seu lado, como gosta que concordem com ele, acabou por reparar em António o tempo suficiente para o elevar a uma posição relativamente proeminente. Não que lhe preste atenção, note-se, a menos que precise do homem para o apoiar ou, em alternativa, de um bode expiatório, mas sempre é mais um voto.
António Silva é membro da Câmara de Comércio porque lhe foi deixada em herança uma pequena fábrica de lápis, borrachas e pioneses por um tio afastado. Quando a recebeu não queria seguir o ramo, de facto preferiria ter sido actor, mas como ninguém lhe prestou atenção acabou enfiado nele até ao nariz. 

Rui Leite - textos
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12 de setembro de 2013

Almanaque Steampunk 2013 - Lista de Autores


cartaz do evento EuroSteamCon 2013 - Porto

 
Clockwork Portugal, organizadora do EuroSteamCon - Porto, publicou a lista de autores do almanaque steampunk 2013:
  • Carlos Silva
  • Joel Puga
  • Cláudia Sérgio
  • João Ventura
  • João Barreiros
  • Carlos Alberto Espergueiro
  • Marco trigo
  • Raquel Cal
  • Cátia Marques
  • Diana Sousa
  • Sílvio do Ó
  • Rui Alex
  • Rui Leite
É com grande felicidade que anunciamos que a nossa BD Steampunk "Da Santa Terrinha à Lua" foi seleccionada para publicação. Para os mais curiosos, tencionamos deixar alguns vislumbres do nosso trabalho durante os próximos dias... estejam atentos!
Rui Leite e Rui Alex